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Antes mesmo de saber da divulgação de novas denúncias envolvendo aliados no escândalo ‘mensalão’, a cúpula do PT sacramentou neste final de semana uma estratégia para blindar seus principais acusados. A reunião do diretório nacional, ocorrida em São Paulo, nem sequer cogitou o afastamento do tesoureiro do partido, Delúbio Soares, e do secretário-geral, Sílvio Pereira, de seus cargos. Junto com o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, Delúbio e Sílvio são apontados pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como os articuladores, no PT, do suposto esquema do ‘mensalão’. Mas, o Campo Majoritário – tendência do partido do qual fazem parte Direcu e o presidente nacional do PT, José Genoino – nem colocaram o assunto em pauta, como queriam a esquerda petista e alguns dos 13 senadores. O retorno de Dirceu à Câmara deve reforçar a blindagem que o governo e o partido querem erguer, em seus principais expoentes. Para retirar as névoas sobre o Planalto, Lula deve escolher esta semana a ministra de Minas e Energia, Dilma Rouseff, de perfil mais técnico, para substituir Dirceu na Casa Civil. Publicidade
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E Dirceu depõe na Corregedoria da casa a portas fechadas – outra forma arquitetada pelo governo para impedir que a névoa do "mensalão" se espalhe. A oposição quer que o ex-ministro fale na CPI dos Correios – o qual deve começar os trabalhos amanhã com o depoimento de Maurício Marinho, ex-diretor dos Correios. Marinho foi flagrado numa gravação pedindo propina, e dizia falar em nome do deputado Roberto Jefferson. Posteriormente, Marinho e Jefferson negaram se conhecerem. Amanhã também, o governo conta com a ajuda de antigos aliados a fim de melhorar sua imagem perante a opinião pública. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) vão fazer uma passeata contra a corrupção na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Mais um ato em desagravo a Lula. PublicidadeO Genu de Janene Por mais que armem uma reação conjunta, o governo e o PT ficaram reféns do noticiário. Neste final de semana, novas denúncias de corrupção vão dificultar a vida de ambos. Reportagem da revista Época aponta que João Cláudio Carvalho Genu, chefe de gabinete do líder do PP na Câmara, José Janene (PR), seria o operador do esquema do "mensalão" dentro do no partido. Segundo a reportagem, Genu, apelidado de João Mercedão, era quem fazia a distribuição do dinheiro na bancada do PP. A verba vinha de estatais comandadas pelo partido, e repassada por Mercedão, cuja alcunha vem do fato de ele ter carros importados. A revista também revela que Genu tinha renda incompatível com seus bens. Recebia R$ 5,7 mil líquidos da Câmara, embora tenha em seus nome vários carros importados e imóveis de luxo. Genu e Janene negaram as acusações da revista. E o deputado do PP foi além. “Não vamos permitir esse tipo de acusações. Qualquer pessoa do PP que se sentir ofendida vai se defender. Não vou acusar ninguém porque não sou leviano. Não temos cargos no governo e, por isso, essa é uma denúncia fantasiosa. Ninguém conseguiria passar pelo detector dos aeroportos com uma mala de dinheiro sem ser percebido”, sustentou o deputado, ao ironizando que quem tem o cofre do dinheiro é o Planalto e o Ministério da Fazenda. Contudo, o líder do PP pode se preparar para dar explicações sobre a participação dele e de Genu no esquema. O conterrâneo e deputado Gustavo Fruet (PSDB) deve mover contra Janene um processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética. “Estou falando em tese, porque não existe comprovação. Mas o Conselho vai analisar e, se for o caso, terá que ser aberto um novo processo. O líder do PP vai depor como testemunha, mas para passar a réu, eventualmente, terá que ser feita uma nova representação”, disse Fruet. Ex-mulher de presidente do PL abre o verbo O presidente do PL, Valdemar Costa Neto (RJ), também terá problemas esta semana. O Fantástico divulgou ontem uma entrevista na qual Maria Cristina Mendes Caldeira, ex-mulher Valdemar, acusa-o de usar dinheiro do próprio partido para comprar móveis e objetos de luxo para o casal. A ex-mulher de Valdemar mostrou notas fiscais que confirmariam as compras. A reportagem mostrou que Valdemar adquiriu, entre outros bens, uma esteira de mais de R$ 9 mil. Cristina diz ter sido ameaçado pelo ex-marido a não revelar o esquema. Valdemar, ainda segundo Maria Cristina, negociou com o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, uma doação para a campanha presidencial de Lula de US$ 2 milhões. O doador seria o governo Taiwan. O advogado de Maria Cristina disse que o presidente do PL ficou com 20% (US$ 400 mil). “A doação foi entregue para o Delúbio. Não tenho prova alguma que o PT sabia disso, porém, ele era a pessoa que representava esse acesso ao PT”, disse ela ao Fantástico. Valdemar e Delúbio negaram as acusações de Maria Cristina. Ela disse que fará novas revelações a CPI dos Correios. Jefferson esconde doação milionária Outro nebuloso caso envolvendo o esquema do ‘mensalão’ é a doação de R$ 4 milhões que o deputado Roberto Jefferson garante ter recebido do tesoureiro do PT, Delúbio Soares. A grana, segundo Jefferson, serviu para financiar campanhas municipais do PTB no ano passado. O PT nega a doação e Jefferson, por sua vez, não afirma como nem onde gastou o dinheiro. “Eu fiz do dinheiro o que deveria ter feito. Este segredo é meu e compete a mim explicar”, afirmou Roberto Jefferson (RJ), que na sexta-feira deixou a presidência do PTB. Jefferson faltou, no mesmo dia, a uma acareação na Polícia Federal com o professor aposentado da Escola Naval da Marinha, Arlindo Molina. Suspeito de participação no esquema dos Correios, Molina foi solto. Seus correligionários de partido tampouco sabem o destino dado ao dinheiro. Em entrevista no último domingo ao Jornal do Brasil, o deputado Roberto Jefferson acusou novamente José Dirceu de ser o idealizador do ‘mensalão’. “O mensalão é uma estratégia maquiavélica pensada pelo José Dirceu”, afirmou. Alguns políticos da oposição já consideram haver elementos para determinar a abertura de um processo de cassação contra José Dirceu. |
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