Guillermo Rivera
O governo apostou todas as fichas na candidatura de Aldo Rebelo (PCdoB-SP), com a promessa de liberação de emendas parlamentares e negociação de cargos, virou o jogo da disputa eleitoral e conduziu, de forma inédita, o representante de um partido de apenas nove deputados à presidência da Câmara. Com a eleição do ex-ministro da Articulação Política, o Palácio do Planalto retoma o comando da Casa, sete meses após a derrota para Severino Cavalcanti (PP-PE), e tenta amenizar os efeitos da pior crise política do governo Lula. O cargo tradicionalmente é ocupado pela maior bancada.
Por 258 votos a 243, Aldo derrotou ontem (28), em segundo turno, o primeiro vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-AL). O mandato do sucessor de Severino se estende até fevereiro de 2007. O placar acirrado reflete bem o que foi a disputa eleitoral mais concorrida da história da Câmara dos Deputados. Os dois chegaram à finalíssima após um incrível empate no primeiro turno com 182 votos.
A conquista de Aldo simbolizou, acima de tudo, uma importante vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que havia perdido a presidência da Câmara em fevereiro deste ano. Ao contrário do que ocorreu na última eleição, desta vez Lula não cruzou os braços e se envolveu diretamente na disputa. O presidente impôs ao PT um candidato de outro partido, evitando-se que se repetisse o quadro do início do ano, quando Virgílio Guimarães (PT-MG) e Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) se enfrentaram, dividiram a base aliada e permitiram a surpreendente vitória de Severino Cavalcanti.
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Lula também obrigou os ministros a entrarem no corpo-a-corpo para obter os votos, e autorizou a liberação de verbas para satisfazer os aliados. O esforço deve render bons frutos ao petista, uma vez que cabe ao presidente da Câmara decidir se um pedido de impeachment contra o presidente da República tem prosseguimento ou é arquivado. Com a vitória do comunista, tido como aliado incondicional de Lula, o foco da atual disputa política começa a sair da crise desencadeada pelo mensalão e dá lugar, paulatinamente, aos movimentos em torno da sucessão presidencial do próximo ano.
Dois dos pivôs da atual crise, o PTB e o PP foram decisivos para a eleição de Aldo. A diferença de votos entre os dois candidatos no segundo turno coincide com o número de deputados da base aliada ameaçados de cassação. Líderes da oposição acusaram o governo de barganhar eventual absolvição dos cassáveis em troca de votos.
PublicidadeOs governistas já haviam acertado com os principais dirigentes dos dois partidos o apoio ao candidato no segundo turno e, por isso, não pressionaram para que os deputados Ciro Nogueira (PP-PI), que obteve 76 votos, e Luiz Antonio Fleury (PTB-SP), que conseguiu 41 votos, abrissem mão de suas candidaturas. No segundo turno, o governo também garantiu o apoio do PDT, que começou com a candidatura declaradamente oposicionista de Alceu Collares (RS).
O primeiro dia da era Aldo Rebelo começará sem votações em Plenário. A sessão será reservada aos trabalhos das comissões. A pauta está trancada por cinco medidas provisórias. Só após votá-las, os deputados poderão analisar as propostas de reforma política e eleitoral. O prazo para que as mudanças entrem em vigor já em 2006 vence nesta sexta-feira. Por meio de um proposta de emenda à Constituição (PECs), os deputados discutem a possibilidade de prorrogar a data-limite para 31 de dezembro.
Em entrevista após a eleição, Aldo disse que seu primeiro esforço juntamente com os líderes, será analisar a possibilidade de aprovar até amanhã mudanças na legislação eleitoral. O novo presidente da Câmara também refutou as críticas dos adversários políticos sobre a atuação do Planalto na sua eleição. Segundo ele, a liberação de verbas de emendas parlamentares é algo corriqueiro e que não se deve fazer uma relação entre essas liberações e a sua vitória.
Apesar do apoio maciço do governo, Aldo assumiu a presidência prometendo fazer uma gestão independente. “As senhoras e os senhores garantiram o espírito democrático desta sessão e demonstraram que esta Casa é uma instituição livre, um espaço independente, que pertence ao seu titular maior, que é o povo brasileiro."
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