Ricardo Ramos
Adiado por duas ocasiões, o depoimento de João Cláudio Genu, ex-chefe de gabinete do líder do PP na Câmara à CPI do Mensalão frustrou as expectativas de quem esperava grandes revelações sobre o partido sob suspeita de compra de apoio parlamentar mais protegido até o momento. O chamado “homem da mala” do PP contrariou a versão apresentada por ele em julho na Polícia Federal de que não sabia quanto havia sacado das contas do empresário Marcos Valério Fernandes.
Em seu depoimento, ele admitiu ter retirado apenas R$ 700 mil na agência do Banco Rural, em Brasília. Genu foi além na lembrança ao ressaltar que, mesmo admitindo que possa ter retirado mais do que esse valor, jamais sacou R$ 4,1 milhões do empresário acusado de ser o operador do mensalão.
Os R$ 700 mil sacados por Genu, coincidentemente, batem com o valor declarado pelo presidente do PP, deputado Pedro Corrêa (PE), à mesma CPI uma semana atrás. Reticente nas palavras, o ex-assessor de Janene disse que a ordem para fazer os saques na agência do Banco Rural sempre partia de um funcionário da direção do PP, chamado de Barbosa. Genu confirmava a autorização dos saques com o próprio Janene ou com Corrêa, já que não conhecia Barbosa (o ex-funcionário do partido se chama Pedro Ribeiro Barbosa e morreu em setembro de 2004 de infarto, aos 63 anos).
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Genu não soube explicar o destino dos recursos. Ao dar a terceira versão para os saques feitos nas contas de Valério, a cúpula do PP sustentou que os cerca de R$ 700 mil sacados por Genu foram usados para pagar os honorários advocatícios do deputado Ronivon Santiago (PP-AC). O deputado acreano foi cassado há um ano pela Justiça Eleitoral do Acre. A perda do mandato foi referendada recentemente pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Coube ao presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, apresentar essa última versão no final de agosto, em entrevista à Folha de S.Paulo. Ronivon ainda está no cargo.
No depoimento, o ex-assessor do PP disse que fez dois saques no valor de R$ 300 mil, na própria agência do Rural, e que recebeu outros R$ 100 mil das mãos de Simone Vasconcelos, diretora-financeira da SMP&B, num hotel em Brasília. Ele não soube explicar o porquê da diferença de valores declarados por ele e apresentados por Valério e Simone à PF e à Procuradoria-Geral da República.
PublicidadeGenu, entretanto, admitiu que poderia haver mais dinheiro do que os R$ 700 mil declarados nos recibos, já que ele esteve “umas três vezes” no Rural para pegar encomendas. Ele contou que não abria os pacotes. “Podia ter mais dinheiro lá porque eu não abri os pacotes”, reconheceu. O ex-assessor do PP negou com veemência que tenha ido ao Banco Rural nos dias 13 e 20 de janeiro de 2004 sacar dinheiro sem assinar recursos, contrariando os registros de entrada e saída da agência em poder da CPI.
O ex-assessor do PP reiterou que só reconhece os saques com sua assinatura. Ele disse que jamais fez qualquer tipo de operação na corretora Bônus-Banval. Embora tenha admitido que já visitou a corretora – onde uma filha de Janene já trabalhou –, o ex-assessor do PP não reconhece como dele o saque de R$ 1,2 milhões feitos no dia 26 de abril do ano passado nas contas da corretora (veja abaixo a lista dos saques de Genu declarados por Valério).
Até relator do PP não sai convencido
O relator da CPI do Mensalão, deputado Ibrahim Abi-Ackel (MG), que é do PP, afirmou que Genu “não foi esclarecedor” em seu depoimento que durou cerca de três horas. Abi-Ackel defendeu o confronto das declarações do ex-assessor do PP com outras feitas à comissão para verificar o grau de envolvimento de Genu com o empresário Marcos Valério.
Integrante da CPI do Mensalão, o deputado João Correia (PMDB-AC) lamentou que o depoimento de Genu, considerado por ele “o mais promissor”, não tenha esclarecido as relações do PP e de Marcos Valério. Correia teme que a falta de avanço nos depoimento de Genu venha servir de álibi para os progressistas. “É uma pantomina armada”, criticou.
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