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Em meio à pior crise do governo Lula e alvo das denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), o ministro José Dirceu anunciou ontem sua saída da chefia da Casa Civil, deflagrando o processo de reforma ministerial, que deve ser concluído na próxima semana. Dirceu volta à Câmara na quarta-feira, após 30 meses no Palácio do Planalto, com a promessa de se defender da acusação de que participaria do esquema de pagamento de mesada a deputados. O anúncio da saída foi feito três dias depois de o presidente do PTB pedir, no Conselho de Ética da Câmara, que Dirceu deixasse a Casa Civil para não transformar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em réu. “Sai daí, Zé, rápido, se não vai fazer réu um homem bom”, provocou Jefferson no depoimento de terça-feira. “Sei lutar na planície e no Planalto”, avisou o petista ontem aos seus adversários. Leia também Publicidade
Nos últimos dois anos e meio, o ministro colecionou desafetos na oposição, no PT e no próprio governo por causa do seu estilo centralizador e da sua influência sobre o presidente Lula. Depois de ser apelidado de “o todo-poderoso” no primeiro ano de governo, sofreu forte desgaste em 2004 após a descoberta de que um assessor da Casa Civil, Waldomiro Diniz, havia cobrado propina de um bicheiro. Publicidade
Ao confirmar o seu retorno à Câmara, o petista disse que vai mobilizar o PT a combater aqueles que pretendem desestabilizar o governo e interromper o processo democrático. Dirceu trocou cartas com o presidente Lula, a quem agradeceu pelo apoio e reiterou lealdade e o compromisso de defender o governo no Congresso (leia mais). Em seguida, fez um discurso no qual afirmou que não se envergonha de nada do que fez no governo e que tem as mãos limpas. “Todos aqui sabem que eu sempre sonhei em governar o Brasil ao lado do presidente Lula, e vou continuar governando o Brasil como deputado e como dirigente do PT”, afirmou. Leia aqui a íntegra do pronunciamento. PublicidadeDepois de recusar o convite de Lula para que assumisse a liderança do governo na Câmara, o ex-ministro disse que tem humildade para voltar como um simples “deputado e militante” e que continuará a governar o país, ao lado do presidente, no Parlamento. Não me considero fora do governo. O governo do presidente Lula é minha paixão, é minha vida. E, ao sair, deixo aqui parte da minha alma, do meu coração. Mas não deixo a minha alma, ela vem comigo para a luta”, discursou. “Saio de cabeça erguida do Ministério. Quero repetir: continuo no governo, como deputado da base, e continuo no governo porque sou PT”, reiterou. Em seu discurso, Dirceu acusou a oposição de tentar desestabilizar o governo Lula. “Vou também voltar como militante-dirigente do PT, que é, na verdade, a minha vida. Vou mobilizar o PT para dar o combate àqueles que querem interromper o processo político democrático e querem desestabilizar o governo do presidente Lula”, avisou. Mais ministros devem voltar à Câmara A saída de José Dirceu desencadeou a reforma ministerial que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende anunciar na próxima semana. A expectativa é de que Lula amplie a participação de partidos aliados no ministério, particularmente o PMDB, e reforce a articulação de sua base parlamentar, com o retorno dos ministros Aldo Rebelo (Coordenação Política), Ricardo Berzoini (Trabalho) e Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia) para a Câmara. Ainda não se sabe quem substituirá Dirceu na Casa Civil. Até o início da próxima semana, o cargo deve ser ocupado pelo secretário-executivo Swedenberger Barbosa. O mais cotado para assumir a vaga é o governador do Acre, Jorge Viana (PT). Também é cogitado o nome do prefeito de Aracaju, Marcelo Déda (PT). O presidente também avalia a saída do ministro da Previdência Social, Romero Jucá, e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que respondem a investigações no Supremo Tribunal Federal (STF). Apontado pelo deputado Roberto Jefferson (RJ) como beneficiário do suposto esquema de mesada, o PP voltou a reivindicar espaço na Esplanada dos Ministérios. O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), sugeriu a nomeação do deputado e ex-ministro Delfim Netto (PP-SP) para o Planejamento. “Delfim e Palocci! Nunca vi um casamento tão bom”, afirmou Severino. Saída repercute com gestos de solidariedade e ataques Enquanto os governistas se solidarizavam com José Dirceu por sua decisão de retornar à Câmara para se defender das acusações e tentar afastar a crise do Planalto, a oposição não poupou o ex-ministro, alegando que o afastamento deveria ter ocorrido na eclosão do caso Waldomiro Diniz. A reação mais dura veio de um vice-líder pouco conhecido do PFL, o deputado José Carlos Machado (SE), que disse que a volta de Dirceu para a Câmara significa um suspeito a menos no governo e um suspeito a mais no Congresso. “Não podemos ignorar que o José Dirceu continua suspeito de compactuar com o pagamento de um suposto mensalão a parlamentares da Casa. Então, a saída de Dirceu do Palácio significa apenas um suspeito a menos no governo e um deputado suspeito a mais na Câmara”, disparou. No Senado, o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), defendeu Dirceu e ressaltou a dimensão do gestão do colega. “Dirceu volta ao Parlamento para defender sua honra, o PT e o governo. Foi um gesto de humildade e grandeza política.” O mesmo discurso foi adotado pelo líder do partido, o senador Delcídio Amaral (MS): “Foi uma atitude de despojamento e desapego”. Para o líder da oposição na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), a saída de Dirceu é uma tentativa do governo de salvar as aparências. Na avaliação dele, ao dizer que sabe “lutar na planície e no Planalto”, Dirceu deu a entender que pode tentar atrapalhar as apurações da CPI dos Correios. “Vamos concentrar as forças para que não sabote as investigações”, afirmou. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse que o afastamento do ministro da Casa Civil precisa ser apenas o começo de uma faxina do presidente Lula no primeiro escalão do governo. "A saída de Dirceu não encerra a crise, mas significa uma contribuição para que Lula quebre o imobilismo", disse o tucano. Para o líder do partido na Câmara, Alberto Goldman (SP), a mudança terá de ser mais expressiva, com uma reforma ministerial ampla. "Foi um bom começo, mas é preciso uma mudança expressiva no governo, que funciona muito mal. Diminuir ministérios e secretarias é o próximo passo", afirmou o líder do PSDB. |
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