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Preso em uma penitenciária no interior de São Paulo, o doleiro Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, acusou ontem petistas de participarem de um esquema de lavagem de dinheiro por meio de remessas ilegais para o exterior. Em depoimento a uma subcomissão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, Toninho disse ter prestado serviços ao ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, ao deputado José Mentor (PT-SP), ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. O doleiro disse que operou para o PT, durante a campanha de 2002, e que dirigentes do partido compraram e venderam dólares irregularmente naquele ano e no seguinte. De acordo com Toninho, a movimentação era feita a partir de uma conta no MTB Bank, apontado por ele como “a verdadeira caixa-preta do país”. Segundo Toninho, 90% do dinheiro lavado no Brasil recentemente passaram por ali. Leia também Publicidade
Ele condicionou a apresentação de provas e detalhes de suas denúncias a uma redução da pena. Os membros da CPI disseram que a medida deve ser tratada por ele com o Ministério Público Federal. O doleiro assegurou aos parlamentares que várias “figuras da sociedade” fizeram operações financeiras usando a SMP&B e a corretora de valores Bonus-Banval, que teria recebido depósitos do Banco Rural para repassar dinheiro ao PT. Toninho declarou ter informações sobre o assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel (PT). Apesar de envolver petistas em suas acusações, o depoimento do doleiro foi relativizado pela própria oposição. “ Achei o depoimento muito genérico, sem profundidade e com informações muito soltas”, comentou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). A CPI pode convocar Toninho a prestar novos esclarecimentos em Brasília na próxima semana. Publicidade
Considerado o maior doleiro do país, ele cumpre pena de 25 anos, por evasão de divisas, na penitenciária de segurança máxima de Avaré. De acordo com a CPI do Banestado, a casa de câmbio dele movimentou US$ 500 milhões entre 1996 e 2002. O ministro da Justiça negou ter feito transação financeira com Toninho. Por meio de sua assessoria, Thomaz Bastos informou ter movimentado dinheiro no exterior, de forma legal, com autorização do Banco Central, mas por meio do Unibanco. Dirceu, por sua vez, negou ter movimentado dinheiro fora do país e mantido qualquer contato com o doleiro. PublicidadeEx-tesoureiros frustram CPI Enquanto Toninho não convencia os membros da CPI dos Correios em São Paulo , dois ex-tesoureiros partidários também não esclareceram as dúvidas dos membros da CPI do Mensalão em Brasília. O ex-tesoureiro do PTB Emerson Palmieri confirmou praticamente todas as declarações do presidente licenciado do partido, deputado Roberto Jefferson (RJ). O depoimento dele foi sucedido pelo de Jacinto Lamas, que cuidou das finanças do PL até o início do ano. Palmieri confirmou ter viajado a Portugal, entre os dias 24 e 26 de janeiro deste ano, em companhia do empresário Marcos Valério Fernandes, para tentar obter dinheiro para seu partido. Valério teria se apresentado à direção da Portugal Telecom como “emissário do PT”. Os dois teriam desembarcado em Lisboa com a missão de arrecadar dinheiro para ajustar as contas do PT e do PTB, após autorização de Dirceu. Os partidos receberiam entre R$ 20 milhões e R$ 24 milhões. A versão de Palmieri confirma a de Jefferson e contradiz a de Marcos Valério, que afirmou que o tesoureiro do PTB teria ido para Portugal com o intuito de descansar. “Voltei mais cansado ainda”, disse. O relato de Palmieri, no entanto, não convenceu a maioria dos integrantes da CPI – o entendimento é de que o depoimento dele foi ensaiado com o petebista. Os integrantes da comissão também se frustraram com as declarações do ex-tesoureiro do PL. Lamas se contradisse várias vezes. Afirmou que nunca tratou dos recursos de caixa dois recebidos com o presidente do partido, o ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP). Depois, confessou saber do dinheiro e no final afirmou que eram recursos da campanha de Lula. Em defesa de Lula Alheios aos depoimentos, manifestantes estiveram na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, realizando um ato em defesa do presidente Lula e contra a corrupção no governo petista. Composta em sua maioria por sindicalistas e estudantes, a manifestação, que reuniu cerca de 10 mil pessoas, antecedeu a que será feita hoje por partidos de esquerda. A expectativa é de que seja ouvido pela primeira vez, na Esplanada, o grito “Fora, Lula”. Durante discurso feito na manifestação de ontem, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), João Felício, afirmou que "ninguém vai derrubar Lula". Integrante da Executiva Nacional do PT, Felício acrescentou que quem quiser cassar o presidente terá de “passar por cima dos movimentos sociais, dos estudantes, dos trabalhadores e do povo". O presidente da CUT, no entanto, não teceu somente elogios ao presidente. Felício pediu, em seu discurso, que Lula mude sua política econômica e abdique da meta de elevado superávit primário que teria como objetivo apenas beneficiar os banqueiros. |
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