Diego Moraes e Ricardo Ramos
Mais uma vez o PT, ainda dono da maior bancada da Câmara, deve perder a disputa pela presidência da Casa. Com a saída de Severino Cavalcanti (PP-PE), prevista para esta tarde, partidos da oposição e da base aliada estão em conversas adiantadas em torno de dois nomes que despontam como favoritos para a sucessão. Na corrida sucessória de Severino, largaram na frente os deputados José Thomaz Nonô (PFL-AL) e Michel Temer (PMDB-SP).
A expectativa é de que o sucessor de Severino – que derrotou em fevereiro os petistas Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) e Virgílio Guimarães (MG) – esteja praticamente definido logo após seu discurso de renúncia. Na bolsa de apostas, José Thomaz Nono saiu na frente de Temer. O vice-presidente da Câmara garantiu nos últimos dois dias o apoio do PSDB, que abriu mão da candidatura própria, e do presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), e, com isso, já tem quase metade dos votos necessários para fazer o vencedor. São necessários 257 votos para ser o presidente da Câmara.
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“Será difícil para o PSDB e o PT ter o presidente da Câmara porque os dois partidos têm nitidamente um projeto de poder”, afirmou o deputado tucano Jutahy Júnior (BA), que desistiu de sua candidatura em prol de Nonô. “PFL e PSDB terão um candidato comum. Se as duas bancadas votarem fechadas nesse nome, o que deve acontecer, já são 110 votos”, contabiliza o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ).
O PFL acredita que Nonô, combativo líder da oposição, tem possibilidade de revitalizar a combalida imagem da Câmara. Eles já começam, nos bastidores, a trabalhar para diminuir as resistências dele com os aliados do governo. Mas só vão anunciar o novo casamento de PSDB e PFL após a queda de Severino. “Não há nenhum apoio definido. PFL e PSDB vão trabalhar uma candidatura juntos, mas somente após a renúncia (de Severino) haverá uma definição”, disse o líder do PSDB, Alberto Goldman (SP) ao Congresso em Foco.
PublicidadeFator Garotinho
O presidente nacional do PMDB, Michel Temer, que nos últimos dias vinha sendo o candidato mais cortejado, criou sua primeira aresta: o apoio do ex-governador do Rio Anthony Garotinho. Presidenciável mal visto pela cúpula do governo – que ainda bate-cabeça sobre quem apoiar –, Garotinho pode esvaziar a candidatura e Temer, ex-presidente da Câmara entre 1997 e 2000. Na avaliação de políticos experientes, é mais fácil que Garotinho, que comanda cerca de 20 deputados, mais atrapalhe do que ajude Temer. Embora ainda não tenham fechado questão, setores do PTB, do PP e do PL sinalizam com apoio ao deputado peemedebista.
Governo sem norte
Com a disputa polarizada entre Nono e Temer, o governo, desarticulado na Câmara desde a ascensão de Severino, não trabalha com a certeza de eleger um candidato de seu agrado. No Planalto, alguns auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegaram a dizer que o petista considera a eleição de Temer uma alternativa viável, diante da possibilidade de a presidência ser ocupada por Nonô. O pefelista é um dos mais atuantes membros da oposição na Câmara. Com o poder nas mãos, poderia dar prosseguimento a um eventual pedido de impeachment de Lula.
O presidente do PMDB não faz parte da ala de apoio ao governo, mas também não integra o campo radical de oposição do partido. É um moderado, que está sempre em diálogo constante com os dois setores.
Porém, o governo está receoso quanto à forma como Temer tem arrebanhado votos. A estratégia de não contar com a ajuda do Planalto pode abrir caminho, no caso de uma eventual vitória, para que o peemedebista adote uma postura de independência entre o Executivo e a Câmara. O parlamentar evita comentar que viés assumirá caso volte ao comando da Casa e ainda se esquiva quando o assunto é eleição. “Me sinto impedido de fazer qualquer especulação a respeito”, desconversa.
Correndo por fora
Fora da disputa entre PMDB e PFL, outros partidos tentam articular seus candidatos, mas sem grandes pretensões. O PDT, o Prona e o PCdoB ainda não fecharam um nome de consenso. O provável candidato é o deputado Sérgio Miranda (MG), que está trocando o PCdoB pelo PDT.
O PT, dono da maior bancada, com 89 deputados, não desistiu de conquistar a presidência da Casa, apesar do pouco esforço do governo em patrocinar a empreitada. O líder da legenda, deputado Henrique Fontana (RS), disse que, apesar das baixas que devem ocorrer após o resultado das eleições internas – o que daria ao PMDB o posto de maior bancada – o partido não abrirá mão da disputa. “O PT foi eleito como o partido de maior bancada, e isso deve ser levado em conta. Esse é um desafio político e não regimental”, argumenta o deputado.
Os petistas mais contados para disputar a presidência são Sigmaringa Seixas (DF), José Eduardo Cardozo (SP), Paulo Delgado (MG) e Arlindo Chinaglia (SP), líder do governo na Casa. Todos enfrentam a resistência de pelo menos alguma vertente do partido, tanto na ala radical quanto no lado governista. Justamente para evitar desgastes com os grupos da legenda às vésperas do ano eleitoral, o governo dá sinais de que pretende não apoiar abertamente nenhum dos candidatos do PT.
Governo pensa em bancar Rebelo
Caso o Planalto decida não passar em branco nessa disputa, uma opção que tem sido cogitada no gabinete presidencial é o deputado e ex-ministro da Coordenação Política Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Ele é uma espécie de “alternativa sempre a mão” para Lula. O parlamentar, que já ocupou a liderança do governo na Casa, foi o responsável por articular a fracassada candidatura de Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), derrotado por Severino em fevereiro deste ano.
Aldo Rebelo é cotado pelo Planalto por ter bom trânsito entre os partidos da oposição e por ser uma opção neutra: não é petista nem membro dos partidos que disputam a presidência (PSDB, PMDB e PFL), embora tenha contatos com governadores tucanos e pefelistas. Outro fator que conta pontos para o deputado é o raciocínio do governo de que a presidência nas mãos de um membro da base pode fortalecer as relações do Executivo com os aliados.
Rebelo nega que esteja em campanha e sequer tem falado sobre o assunto publicamente. Desmente que já tenha começado a ensaiar uma discreta articulação, com telefonemas e conversas nos corredores, e afirma que se coloca como “a última opção” para o presidente Lula. “Sou a última estação do metrô”, brinca o comunista, por meio de sua assessoria. Mas ele admite: se Lula o convocar, vai topar o desafio.
Outro que está em campanha desde o início do inferno de Severino é o vice-líder do governo Beto Albuquerque (PSB-RS). Depois que o presidente da Casa sinalizou com a renúncia, o gaúcho, que já indicava que pretendia disputar o cargo, começou a conversar com colegas de plenário e elaborou, inclusive, um plano de metas para a Câmara, caso vença as eleições. O parlamentar, que concorre de maneira independente, promete articular uma agenda mínima e afirma que essa é a única alternativa que a Câmara tem de se redimir da crise até o final da legislatura.
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