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Após seis horas de acaloradas discussões entre governo e oposição, a CPI dos Correios aprovou ontem a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico do publicitário Marcos Valério Fernandes, apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como um dos operadores do mensalão. Também foi definido que ele será ouvido pela comissão na próxima quarta-feira (6), no mesmo dia em que a sua ex-secretária Fernanda Karina Somaggio, que o acusa de manter relações escusas com dirigentes do PT. Ontem, Valério negou à Polícia Federal e à comissão de sindicância da Câmara que apura a denúncia de Jefferson ter conhecimento do suposto esquema de compra de deputados. Nos dois depoimentos, o empresário desmentiu a versão que tinha apresentado à revista Veja para justificar os saques de R$ 21 milhões feitos, em dinheiro vivo, nos últimos dois anos. Leia também Publicidade
Na entrevista, ele havia dito que o montante teria sido gasto na compra de gado. Em Brasília, ele alegou que o dinheiro foi usado na compra de ativos, no pagamento de fornecedores e na distribuição de lucros entre seus sócios nas agências DNA e SMP&B. Valério não informou, porém, quais ativos foram comprados e quem são os fornecedores das duas agências. A CPI dos Correios adiou para hoje a votação do pedido de quebra de sigilo das duas empresas. Publicidade
O publicitário negou ter repassado dinheiro do PT a parlamentares da base aliada em troca de apoio ao governo nas votações. Responsável pelo inquérito, o delegado Luís Flávio Zampronha classificou como confusa a versão do publicitário. Ele pediu ao Instituto Nacional de Criminalística perícia contábil nas declarações de renda do empresário. Valério afirmou que não mantinha relação com o ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu, confirmou que se encontrava com freqüência com o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e ressaltou que tem contato com o meio político desde o governo Itamar Franco. A CPI dos Correios vai investigar a relação de Valério com o governo Fernando Henrique. Maioria na comissão, os governistas só aceitaram o requerimento que determinou a quebra do sigilo de Marcos Valério com a condição de que as investigações se refiram às ações do empresário nos últimos cinco anos. "No governo Fernando Henrique Cardoso, em 2001 e 2002, foram pagos R$ 39,4 milhões à DNA e à SMP&B. Neste governo, em 2003 e 2004, foram R$ 14,8 milhões", argumentou o deputado José Eduardo Cardozo (SP), vice-líder do PT na Câmara. PublicidadeDeputados e senadores petistas também tentaram adiar o depoimento do publicitário. A protelação irritou até o presidente do colegiado, Delcídio Amaral (MS), líder do PT no Senado. “Até parece que é o Bush que vai cair. Ele (Marcos Valério) vai vir sim”, reagiu. A CPI ainda aprovou 15 requerimentos em bloco. Um deles solicita ao Banco Rural a identificação, em até 15 dias, de todos os saques superiores a R$ 100 mil feitos em dinheiro nas agências de Belo Horizonte, desde 2003, pela SMP&B, a DNA Propaganda e seus sócios. A CPI deve receber hoje, do Ministério Público Federal, relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) com o mapeamento das movimentações financeiras feitas por Valério e suas empresas. De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, há indícios de que o publicitário tenha movimentado R$ 40 milhões entre julho de 2003 e maio de 2005 em contas de diferentes bancos. A agenda entregue pela ex-secretária de Valério ao Conselho de Ética da Câmara demonstra que há uma coincidência entre as datas dos encontros do publicitário com dirigentes petistas e os saques feitos em dinheiro vivo. Às vésperas de duas reuniões com o secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, ele teria sacado R$ 330 mil do banco. Genoino e Múcio divergem sobre dinheiro para campanha A comissão de sindicância da Câmara que apura as denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) só conseguiu ouvir ontem o presidente nacional do PT, José Genoino, dos quatro dirigentes petistas que havia convidado. O secretário-geral, Sílvio Pereira, o tesoureiro, Delúbio Soares, e o secretário de Comunicação do partido, Marcelo Sereno, não compareceram à reunião. As declarações do presidente do PT foram conflitantes com as feitas no Conselho de Ética pelo líder do PTB na Câmara, José Múcio (PE). Múcio confirmou a existência de um acordo – supostamente feito por Genoino e Delúbio com Jefferson – para o repasse de R$ 20 milhões a candidatos petebistas nas eleições municipais. Desse total, só R$ 4 milhões teriam sido repassados. A transação, admite Jefferson, não foi declarada à Justiça Eleitoral. "O PT fez um acordo político-eleitoral nas cidades onde tínhamos aliança com o PTB. (Sobre) As despesas de show, televisão, material de campanha, adesivos, camisetas, tivemos responsabilidade. Mas jamais apoio de R$ 20 milhões, nem passar R$ 4 milhões para o PTB", disse Genoino. Durante o depoimento, Múcio contradisse Jefferson. Ao contrário do que sustenta o presidente licenciado de seu partido, o petebista alegou que não tinha conhecimento do mensalão e que nunca chegou a tratar do assunto com o tesoureiro petista. Negou ainda que tenha sido pressionado pelos deputados Pedro Henry (PP-MT), Valdemar da Costa Neto (PL-SP) e Carlos Rodrigues (PL-RJ) para aceitar a mesada, conforme dissera o deputado fluminense. Também pôs em dúvida o destino do dinheiro supostamente repassado pelo PT. "Tenho quase certeza de que esse dinheiro não chegou aos candidatos a prefeito", disse. Segundo ele, Jefferson chegou a pedir, sem sucesso, mais R$ 4 milhões ao PT. Genoino confirmou ter se encontrado algumas vezes com Valério, mas foi enfático ao negar o envolvimento do partido com o suposto esquema de pagamento de mesada a deputados em troca de apoio ao governo nas votações. "O PT não sabia, não conversou e nunca discutiu esta história de mensalão", disse. |
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