Os ventos favoráveis a Renan têm explicação na própria relação reeditada do senador com o governo Dilma Rousseff, que carece de apoio no Congresso. Na volta do recesso parlamentar (entre 17 e 31 de julho), o peemedebista passou a contrariar a própria atuação em todo o primeiro semestre do segundo mandato de Dilma, quando incorporou a figura de principal opositor à petista no Congresso. Conduta que, aliás, intensificou-se principalmente depois da inclusão de seu nome entre os políticos investigados na Lava Jato.
Atualmente, Renan é visto como o principal fiador da governabilidade na gestão petista, com o auxílio do vice-presidente da República, o também peemedebista Michel Temer. Como este site mostrou em 5 de agosto, o senador prometeu neutralizar a “pauta-bomba” de votações contra o governo preparada pelo agora autodeclarado oposicionista Eduardo Cunha. Além disso, tem se reunido frequentemente com a equipe econômica de Dilma, passou a apoiar o que até recentemente chamava de ajuste fiscal “capenga” e pautou projetos que, entre outros efeitos, contribuem para o equilíbrio das contas públicas. Chegou ao ponto de, em nome do combate à crise, capitanear a elaboração da “Agenda Brasil”, conjunto de propostas legislativas para votação no Congresso.
Em 16 de junho, a relação entre Renan e Janot não era das melhores. Aliás, nem existia. Embora sentados à mesma mesa, Renan e Janot sequer se olharam na posse do mais recente ministro do STF, Luiz Edson Fachin, mais uma das indicações de Dilma para a corte máxima. Na ocasião, não houve sequer registro de cumprimento entre ambos, normal em solenidades com representantes dos três Poderes.
Recondução à vista
Janot recebeu de seus pares no Ministério Público, por ampla maioria, a carta branca para ser reconduzido ao comando da Procuradoria-Geral da República no próximo biênio. Como é praxe, a presidenta Dilma Rousseff acatou a indicação dos membros do MP e a submeteu ao Senado, que detém a prerrogativa de avalizar a mensagem presidencial em sabatina. Com o apoio de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o procurador pode ser sabatinado já na próxima quarta-feira (19).
Segundo enquete do blog do jornalista Fernando Rodrigues, hospedado no Portal UOL, ao menos 20 dos 27 membros da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, onde tem início o rito de exame da indicação, pretendem aprovar o nome de Janot para mais um mandato. Uma vez alcançado esse objetivo, o procurador-geral ainda tem de passar pela maioria dos senadores em Plenário.
Reconciliação
Renan se reaproxima da presidente – e, por tabela, de Janot – às vésperas do julgamento da prestação de contas do governo pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Partido de Renan, o PMDB indicou três dos nove ministros do tribunal, dois dos quais com forte apoio do senador: os novatos Bruno Dantas e Vital do Rêgo Filho. Uma eventual condenação por crime de responsabilidade no tribunal por causa das chamadas “pedaladas fiscais” representa o pior dos mundos para a petista, pois abre caminho para o seu impeachment no Congresso, com o patrocínio do inimigo Eduardo Cunha.
Enquanto o futuro da presidente passa pelo TCU, o do peemedebista está pendurado no STF, onde é aguardada para os próximos dias a primeira leva de denúncias de Janot contra parlamentares que atualmente respondem a inquérito na Lava Jato. Renan é alvo de três investigações. Da atual composição do tribunal, apenas os ministros Celso de Mello, Marco Aurélio Mello e Gilmar Mendes, os mais antigos da corte, não foram indicados pela atual presidente ou pelo ex-presidente Lula. Nos bastidores, a influência exercida pelo PMDB no TCU e pelo governo no STF é vista com esperança, tanto por Dilma quanto por Renan, para escapar das confusões em que se meteram.