Edson Sardinha |
A já elevada temperatura política tende a subir ainda mais nas próximas 48 horas em Brasília, numa semana abreviada pelo feriado de Corpus Christi, na quinta-feira. Em meio a uma pauta com votações polêmicas na Câmara e no Senado, os líderes governistas têm até amanhã para impedir a instalação da comissão parlamentar de inquérito (CPI) que pretende investigar denúncia de corrupção nos Correios. Para isso, eles precisam convencer pelo menos 23 senadores e 68 deputados da base aliada a desistirem do apoio ao pedido de investigação. Do contrário, a CPI será instalada nesta quarta-feira, em sessão conjunta do Congresso Nacional. O mínimo de assinaturas exigido para a criação de uma comissão mista de inquérito é de 27 no Senado e 171 na Câmara. Até ontem, a oposição exibia uma lista com o nome de 49 senadores e 217 deputados. Metade dessas assinaturas era de parlamentares de partidos da base de sustentação do governo. Publicidade
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Entre eles, aparecem 19 petistas. Documento do Diretório Nacional do PT aprovado no último sábado manifesta a posição do partido contra a CPI, mas não exige dos deputados que já assinaram o requerimento a retirada do apoio, o que só reforça a dificuldade dos governistas em impedir o início das investigações. “No contexto de garantia de ampla investigação pelos órgãos adequados, o PT entende que uma CPI é desnecessária. Por isso, orienta seus deputados e seus senadores para que não endossem a convocação da CPI (dos Correios). Recomenda também aos parlamentares que já deram endosso à CPI para que o retirem. O PT fará gestões, ainda, junto a aliados, para que adotem o mesmo procedimento”, aponta o texto. PublicidadeNovas denúncias contra o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), publicada na última edição da revista Veja, devem dificultar a “operação abafa” da CPI e reforçar o discurso da oposição de que é necessário estender as investigações a outras estatais. De acordo com a reportagem, Jefferson é acusado por um ex-presidente do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) – uma sociedade de economista mista jurisdicionada ao Ministério do Trabalho – de cobrar da entidade, em nome do partido, uma verba mensal de R$ 400 mil. A revista ainda cita a ligação do deputado com outras três pessoas suspeitas de corrupção na Polícia Rodoviária Federal, no Instituto Nacional de Traumato-Ortopedia e no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Ainda no sábado, o ministro da Casa, José Dirceu, contestou trecho da reportagem que atribui a ele a declaração, supostamente feita a um aliado, de que, se não fosse minimamente bem feita, a CPI poderia incriminar o secretário-geral do partido, Sílvio Pereira, e o tesoureiro do PT, Delúbio Soares. “Considero de uma gravidade extrema o que a Veja fez, e só mostra a tentativa da oposição de desestabilizar o país. Se vai fazer CPI dos Correios, o Congresso que decida, mas a tentativa de me envolver, chega a beirar o golpismo”, reagiu, durante o encontro com vereadores em São Paulo. Breve e agitada Além de tentar impedir a instalação da CPI, os líderes governistas terão de ficar atentos às investidas da oposição no plenário e nas comissões das duas Casas. Nesse caso, porém, o feriado de Corpus Christi deve ser aliado do governo. Com as votações restritas a terça e quarta-feira, os líderes ganharão mais tempo para negociar e adiar as deliberações para a próxima semana. O esforço será mais do que necessário, já que, na Câmara, três das nove medidas provisórias que obstruem as votações correm risco de serem rejeitadas. São elas as MPs 239/05, 242/05 e 246/05 (leia mais). O presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PP-PE), anunciou que vai determinar esta semana o início dos trabalhos da CPI do Setor Elétrico. Criada para investigar as privatizações das elétricas no governo Fernando Henrique Cardoso, a comissão está parada há dois meses por falta de acordo entre os partidos na definição da relatoria e da presidência do colegiado. A oposição ameaça obstruir as votações caso a CPI não comece a funcionar de imediato e acusa o governo Lula de não querer levar as investigações adiante. Reservadamente, membros do governo admitem temer que as apurações possam afastar os investidores, prejudicar as futuras parcerias público-privadas (PPPs) e os próximos leilões de energia (leia mais). No Senado, a oposição promete dar o troco ao veto articulado pelo PT, na semana passada, à indicação do ex-secretário estadual de Justiça de São Paulo Alexandre Moraes para uma vaga no Conselho Nacional de Justiça. A vítima pode ser Alexandre Antonio Tombini, indicado pelo Executivo para o cargo de diretor do Banco Central. A votação está prevista para amanhã na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), onde Tombini será sabatinado. |
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